quarta-feira, 8 de julho de 2009
POEMA II, de Raul Bopp
Começa agora a floresta cifrada
A sombra escondeu as árvores
Sapos beiçudos espiam no escuro
Aqui um pedaço de mato está de castigo
Arvorezinhas acocoram-se no charco
Um fio de água atrasada lambe a lama
- Eu quero é ver a filha da rainha Luzia!
Agora são os rios afogados
bebendo o caminho
A água resvala pelos atoleiros
afundando afundando
Lá adiante
a areia guardou os rastos da filha da rainha Luzia
- Agora sim
vou ver a filha da rainha Luzia
Mas antes tem que passar por sete portas
Ver sete mulheres brancas de ventres despovoado
guardadas por um jacaré
- Eu só quero a filha da rainha Luzia
Tem que entregar a sombra para o Bicho do Fundo
Tem que fazer mirongas na lua nova
Tem que beber três gotas de sangue
- Ah só se for da filha da rainha Luzia!
A selva imensa está com insônia
Bocejam árvores sonolentas
Ai que a noite secou
A água do rio se quebrou
Tenho que ir-me embora
Me sumo sem rumo no fundo do mato
onde as velhas árvores grávidas cochilam
De todos os lados me chamam
- Onde vais Cobra Norato?
Tenho aqui três arvorezinhas jovens à tua espera
- Não posso
Eu hoje vou dormir com a filha da rainha Luzia
(Cobra Norato e Outros Poemas)
(Ilustração: Joseph Barbaccia - felix culpa)
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