quinta-feira, 13 de agosto de 2009

SEISCENTOS URUBUS E UMA ASA BRANCA, de Guilhermino César








Seiscentos urubus, ora essa, um espetáculo

real. Os reis amam a tragédia.

Seiscentos urubus e uma asa branca,

corrijo a tempo. Asa branca é contraste

num tamanho cortejo de negrume ideal. Os reis

gostam de brincar nas alturas;

o difícil, naturalmente, não é para nós outros,

peões, salário-mínimo, lixo, estrume dos edifícios.

Seiscentos urubus, uma carga de horrores

a exigir um panfleto.

Mas aparece uma asa, apenas uma

asa branca, e o negrume acabou-se.




(Ilustração: foto de Weichuan Liu)



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