quarta-feira, 30 de setembro de 2009

MONÓLOGO PÓSTUMO, de Ubaldo Luiz de Oliveira (*)







Quantas flores!

Quanto roxo, Dona Antônia!

Quantos castiçais a queimarem velas
Que parecem traiçoeiras como as procelas.

Mas, Maria José, pra que tanto roxo?
Se pudesse, ai! daria um muxoxo.

E a pompa da tia Tonica
Que na minha lapela

Colocou uma sempre viva.

E crucifixo?
Que lindo!
Perder o Cristo
E ficará só a cruz
Sem o meu Jesus.

Mas não é nada
Diria minha prima Sebastiana.
O coitado a essa hora
Já não sabe de nada, nadinha.

Ó Minha prima!
Como ficaria a sua espinha,
Se ouvisse o som daquela voz minha.

Mas tudo é ilusão!

Arrumaram tanto o meu caixão,
De rosas puseram até um botão.

Quanta amabilidade!
Quanta falsidade!
Para um homem de tanta idade

Que nem chegou à maturidade.




(Ubaldo Luiz de Oliveira - O Camelo Ancorado - São Paulo/ 1988)


(*) Com uma lágrima, uma lágrima sentida, em sua memória.


(Ilustração: Cézane)





2 comentários:

  1. Obrigada Isaias, pelo carinho.
    Não fossem as circunstâncias, eu diria que estou feliz por te reencontrar.
    Tenho certeza de que a sua lágrima é realmente sentida.
    Um grande abraço,
    Marina

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    1. Fiquei deveras emocionado, com sua manifestação, Marina. Abraço.

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