segunda-feira, 17 de novembro de 2025

LE SERPENT QUI DANSE /A SERPENTE QUE DANÇA, de Charles Baudelaire

 



Que j'aime voir, chère indolente,

De ton corps si beau,

Comme une étoffe vacillante,

Miroiter la peau!



Sur ta chevelure profonde

Aux âcres parfums,

Mer odorante et vagabonde

Aux flots bleus et bruns,



Comme un navire qui s'éveille

Au vent du matin,

Mon âme rêveuse appareille

Pour un ciel lointain.



Tes yeux, où rien ne se révèle

De doux ni d'amer,

Sont deux bijoux froids où se mêle

L'or avec le fer.



A te voir marcher en cadence,

Belle d'abandon,

On dirait un serpent qui danse

Au bout d'un bâton.



Sous le fardeau de ta paresse

Ta tête d'enfant

Se balance avec la mollesse

D'un jeune éléphant,



Et ton corps se penche et s'allonge

Comme un fin vaisseau

Qui roule bord sur bord et plonge

Ses vergues dans l'eau.



Comme un flot grossi par la fonte

Des glaciers grondants,

Quand l'eau de ta bouche remonte

Au bord de tes dents,



Je crois boire un vin de Bohême,

Amer et vainqueur,

Un ciel liquide qui parsème

D'étoiles mon cœur!



Tradução de Juremir Machado da Silva:



Babo de ver, gata indolente,

Do teu corpo de modelo,

Como uma lingerie insolente,

Tremeluzir o pelo.



Sobre teu cabelo profundo,

Acres perfumes,

Mar odorante e vagabundo,

Ondas azuis e negrumes,



Como um navio que se espelha

No vento do novo dia,

Minha alma sonhadora aparelha

Para um céu de utopia.



Teus olhos que nada revelam

De doce nem de fatal,

São joias frias que modelam

O ouro com o vil metal.



Quem te vê nesse andar que balança,

Manhosa de exaustão,

Imaginaria uma serpente que dança

Na ponta de um bastão.



Sob o fardo da lascívia

Tua cabeça de infante

Ondeia com a malícia

De um jovem elefante,



E teu corpo se dobra e estira,

Como um barco sem mágoa,

Que costeia a margem e atira

As suas vergas na água.



Como as vagas alimentadas pelas fontes

Das geleiras mordentes,

Quando as águas da tua boca são pontes

Para o fio de teus dentes,



Creio beber da Boêmia um vinho,

Amargo e campeão,

Céu líquido que faz um caminho

De estrelas no meu coração!




(Ilustração: Herman Richir - sueños azules)



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