terça-feira, 11 de novembro de 2025

ESFINGE, de Ana Cecília de Sousa Bastos

 



Não sei do poema, de seu doce amargo.

De suas palavras cindindo o meu coração,

me fazendo refém de emoções.

Nostálgica do fluxo que molda palavras e brinca com elas,

na imprecisão vertiginosa do texto,

qualquer que seja.

...pois esqueço que escrever é dor; ato visceral do qual a marca no papel ou na tela é mero reflexo. Não sei em que espaços me disfarço tanto, disfarço essa tanta consciência de coisas e gestos e sentimento, escolho essa inércia que me faz morta.

Sonho a delicadeza (utopia) enquanto em mim a poesia é presença: o ofego, o suspiro, o entrecortado afeto. Lente que distorce a superfície do dia e faz o viver

fluido total, ferida aberta. É tão visceral que sonho a delicadeza, as puras imagens, o imagético delírio, a geometria das palavras. Um descompromisso? Uma fuga, sim.

Na estrutura de meus poemas vejo a estrutura do meu modo de estar na vida, de pressentir de longe sua fatia mais densa, apetitosa e verdadeira.

Enquanto isso as palavras fogem e sou esfinge.



(A Impossível Transcrição)



(Ilustração: Ish Gordon - a mysterious Woman)



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