segunda-feira, 1 de março de 2010

POR MARES NUNCA D'ANTES NAVEGADOS, de Leila Míccolis








A Gilberto Mendonça Teles


Decididamente,
escola não era o lugar de Camões...
Que me perdoem os mestres
com suas erudições,
mas, epopéia, era sair cedo da cama,
só para encontrar Vasco da Gama.
Cheia de sono,
nem o lia:
mal abria Os Lusíadas,
ao abandono de divagar
eu me entregava.
E como viajava:
Coimbra, Ceuta, Goa,
Índia, Moçambique, Lisboa...
Esta sim era a vida que eu sonhava...
E que vidinha boa!
Não a de estudos,
sisudos,
miúdos.
A certa altura,
logo depois da formatura,
quando cessou tudo o que a Musa antiga cantou
que outro valor mais alto se alevantou,
de Camões me perdi.
E só há pouco entendi
quanta aprendizagem havia
nas v(ad)iagens que eu, turista,
empreendia.
Então num movimento saudosista
— bem português —,
agora cheia de lucidez e nostalgia,
suspiro,
ao ver que de mim se distancia
por toda a parte, sem engenho, a arte.
E a conclusão final que eu tiro,
pá,
é de que mesmo sem eu ler poesia,
para o seu Reino, cheio de magia,
Camões, fidalgo, me levava lá...



(Ilustração: Vênus e a ilha dos amores- autoria não identificada)







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