domingo, 21 de março de 2010

E OS SILÊNCIOS SOBREPUSERAM-SE UNS AOS OUTROS, de Sílvio Augusto Gallucci








E os silêncios sobrepuseram-se uns aos outros, o do homem à pedra,

O da pedra ao cão, o de nossos três personagens

Ao leitor.


Eles sentiam-se um pouco sufocados pelo enorme volume das palavras que não eram ditas;

Havia, porém, nesse procedimento uma força insuspeita. Sim, eles pereceberam que poderiam

Simplesmente calar-se, e que o narrador – um espectador pobre de tantos diferentes eventos –

Acabaria por fartar-se em descrever um homem, uma pedra e um cão entreolhando-se

Numa absoluta ausência de sons, que se aproximava bastante

De uma reverência profunda e mútua.

Sim, surgiu entre eles algo semelhante a um elo, uma aliança, uma simbiose.

Eram três entes: um homem, uma pedra e um cão.


Mas tal silêncio emanava das entranhas desta pedra mesma – entre o silêncio e a pedra

Havia somente a distância de uma metáfora.




(Ilustração: Rafal Olblinski – conversation controle)






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