segunda-feira, 4 de junho de 2012

ESFINGE, de Teófilo Dias







Tuas pupilas alaga 
Não sei que acerba ternura, 
Cuja luz cruel me afaga, 
Cujo afago me tortura. 
  
Unge-te o seio moreno 
Um perfume sufocante, 
Suave como um calmante, 
Pérfido como um veneno. 
  
Freme-te a alma fatal 
No frágil corpo nervoso, 
Como um filtro perigoso 
Numa prisão de cristal. 
  
Para estancar os desejos, 
Que teu sangue tantalizam, 
Teus lábios prodigalizam 
Dentadas por entre beijos. 
  
Com sarcasmo me apunhalas; 
Depois, as feridas cruas 
Ameigas com a luz que exalas 
Dos teus olhos, - negras luas. 
  
Tua palavra me é dura 
Às vezes, pelo sentido, 
E doce pela brandura 
Com que me trina no ouvido. 
  
Há uma alma que suspira 
Em cada ponto do espaço 
Quando caminhas: teu passo 
Murmura como uma lira. 
  
No movimento discreto 
Revelas, por entre gazes, 
Todo um poema correto 
Escrito em versos sem frases. 
  
Os teus lençóis apaixonas 
Com a gentileza que apuras 
Nas langorosas posturas 
Em que o teu corpo abandonas. 
  
Dos primores, de que és feita, 
A nenhum dou primazia: 
É do conjunto a harmonia 
Que os meus sentidos sujeita. 
  
E eu te amo, beleza fátua, 
Minha perpétua loucura, 
Como o verme a flor mais pura, 
E o musgo a mais bela estátua!



 (Antologia da Poesia Paulista)



(Ilustração: Gaston Casimir Saint-Pierre - dream of a believer)



Nenhum comentário:

Postar um comentário