sábado, 16 de junho de 2012

A INVENÇÃO DO HOMEM – I, de Lupe Cotrim Garaude










Tempo de estar, por muito tempo.

Depois, de prosseguir, de ultrapassar,

tempo concreto, de assegurar,

tempo de dança e luta, de deuses

construídos, tempo de desejo e posse,

corpos atentos, reunidos,

tempo de ser e vir a ser,

tempo abstrato, de conceituar.

Que tempo é o tempo real,

o tempo-rei, o tempo-estátua,

rotação de sentido em translação

ampliada? Tempo-planeta,

de estrela um outro tempo,

tempo de seiva e carne,

de pedra e de colheita, tempo

de fogo, de escrita, de leis

e religiões, tempo de arte,

a carne enraizada nos murais.

Tempo de trocas, tempo de terra

e mar, estradas percebidas,

tempo de conquistas, fratricida,

tempo de cidades erguidas,

destruídas, tempo palmilhado,

dividido, tempo de amar

– estar fora do tempo, tempo

de vida, dias pertencidos,

noites esquecidas, tempo de céu

e inferno, tempo de morte

sem nenhum sentido, tempo de cristo

sonhado irmão, sem pobre ou rico,

tempo-bomba, tempo suicida,

tempo de máquinas, de bens

não divididos,

e enfim o tempo-espaço,

o tempo relativo, do mistério

circundado e ainda vivo.




(Ilustração: Urszula Ciolkowska)

Nenhum comentário:

Postar um comentário