sexta-feira, 1 de junho de 2012
O FUTURO DO BRASIL, de Afonso Celso
Com os elementos congregados em si, pode o Brasil, como nenhum outro país, caminhar desassombrado, o olhar alto, o passo firme. Desempenhará nos negócios humanos papel proporcional ao lugar que ocupa no Globo. Como José Bonifácio declarava em 1789, perante a Academia Real de Lisboa, está preparado para novo assento de ciências, para foco de nova civilização.
É verdade que a grandeza não deriva da simples posse de dons valiosos, mas do seu sábio aproveitamento. Porque, porém, deixaremos de pôr em ação os nossos prodigiosos recursos? Quando não o quiséssemos, seríamos forçados a isso pela ordem natural das cousas, à lei infalível do desenvolvimento das forças e das necessidades. Viveremos, cresceremos, prosperaremos. A educação, o aperfeiçoamento, hão de vir. Somos ainda uma aurora. Chegaremos necessariamente ao brilho e ao calor do meio dia. Ao terminar o século XIX, já constituímos a 2a. potência do Novo Mundo, a 1a. da América do Sul, a 1a. em extensão e a 3a. em população da raça latina. Seremos a 2a. ou a 1a. do orbe, quando a hegemonia se deslocar da Europa para a América, o que fatalmente sucederá. Encarnaremos então as qualidades, guardaremos as tradições, representaremos os serviços dos latinos no trabalho universal. Se tais qualidades, tradições e serviços são eminentes (e quem ousará negá-lo?) eminente será a nossa missão. Não temos o direito de desanimar nunca. Assiste-nos o dever de confiar sempre. Desanimar no Brasil equivale a uma injustiça, a uma ingratidão; é um crime. Cumpre que a esperança se torne entre nós, não uma virtude, mas estrita obrigação cívica.
Desanimar, porque? quando nada nos falta que não possamos conseguir? Penosíssima embora a situação atual, é incomparavelmente mais auspiciosa que a da Grécia, a da Itália, a de Portugal, a da França mesmo.
Quão menos grave que a dos Estados europeus! Neste, a população emigra; naquele decresce cada dia. Vive condenada em todos a não largar as armas, minada pela miséria, dividida por ódios implacáveis, explorada pelo argentarismo, ameaçada pelos anarquistas. Apesar de tudo, lá não desanimam. Havemos nós de desanimar?!
Não! Compenetremo-nos das nossas responsabilidades, ufanemo-nos do que somos, mostremo-nos dignos de tamanhas vantagens e benefícios, façamos, em suma, o nosso dever.
Confiemos. Há uma lógica imanente: de tantas premissas de grandeza só sairá grandiosa conclusão. Confiemos em nós próprios, confiemos no porvir, confiemos, sobretudo, em Deus que não nos outorgaria dádivas tão preciosas para que as desperdiçássemos esterilmente. Deus não nos abandonará. Se aquinhoou o Brasil de modo especialmente magnânimo, é porque lhe reserva alevantados destinos.
(Porque me ufano do meu País, 1900)
(Ilustração: Romero Britto)
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