quinta-feira, 31 de julho de 2025

AQUELA, de Darcy Ribeiro

 



Minha amada é de carne, de pele e pelo.

Ora é negra, ora é loura, ora é vermelha.

Minha amada é três. É trinta e três.

Minha amada é lisa, é crespa, é salgada, é doce.



Ela é flor, é fruto, é folha, é tronco.

Também é pão, é sal e manga-rosa.

Minha amada é cidade de ruas e pontes.

É jardim de arrancar flores pelo talo.



Ela é boazuda e é bela como uma fera.

Minha amada é lúbrica, é casta, é catinguenta.

Minha amada tem bocas e bocas de sorver,

de sugar, de espremer, de comer.



Minha amada é funda, latifúndia.

Minha amada é ela, aquela que não vem.

Ainda não veio, nunca veio, ainda não.

Mas virá, ora se virá. A diaba me virá.



(Eros e tanatos)



(Ilustração: escultura de Giovanni Strazza - a virgem velada, 1854)

Nenhum comentário:

Postar um comentário