domingo, 6 de novembro de 2022

GATA ANGORÁ, de J. G. de Araújo Jorge

 




Sobre a almofada rica e em veludo estofada

caprichosa e indolente como uma odalisca

ela estira o seu corpo de pelúcia, – e risca

um estranho bordado ao centro da almofada...



Mal eu chego, ela vem... (nunca a encontrei arisca)

– sempre esse ar de amorosa; a cauda abandonada

como uma pluma solta, pelo chão deixada,

e o olhar, feito uma brasa acesa que faísca!



Mal eu chego, e ela vem... lânguida, preguiçosa,

roçar pelos meus pés a pelúcia, de prata,

como a implorar carícias, tímida e medrosa...



E tem tal expressão, e um tal jeito qualquer,

– que às vezes, chego mesmo a pensar que essa gata

traz no corpo escondida uma alma de mulher!

 

(Amo! - 1938)

 

(Ilustração: Jean-Honoré Fragonard et Marguerite Gerard- le chat angora)

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