quinta-feira, 24 de novembro de 2022

EL DESPERTAR / O DESPERTAR, de Alejandra Pizarnik

 




Señor

La jaula se ha vuelto pájaro

y se ha volado

y mi corazón está loco

porque aúlla a la muerte

y sonríe detrás del viento

a mis delirios



Qué haré con el miedo

Qué haré con el miedo



Ya no baila la luz en mi sonrisa

ni las estaciones queman palomas en mis ideas

Mis manos se han desnudado

y se han ido donde la muerte

enseña a vivir a los muertos



Señor

El aire me castiga el ser

Detrás del aire hay monstruos

que beben de mi sangre



Es el desastre

Es la hora del vacío no vacío

Es el instante de poner cerrojo a los labios

oír a los condenados gritar

contemplar a cada uno de mis nombres

ahorcados en la nada.



Señor

Tengo veinte años

También mis ojos tienen veinte años

y sin embargo no dicen nada



Señor

He consumado mi vida en un instante

La última inocencia estalló

Ahora es nunca o jamás

o simplemente fue



¿Cómo no me suicido frente a un espejo

y desaparezco para reaparecer en el mar

donde un gran barco me esperaría

con las luces encendidas?



¿Cómo no me extraigo las venas

y hago con ellas una escala

para huir al otro lado de la noche?



El principio ha dado a luz el final

Todo continuará igual

Las sonrisas gastadas

El interés interesado

Las preguntas de piedra en piedra

Las gesticulaciones que remedan amor

Todo continuará igual



Pero mis brazos insisten en abrazar al mundo

porque aún no les enseñaron

que ya es demasiado tarde



Señor

Arroja los féretros de mi sangre



Recuerdo mi niñez

cuando yo era una anciana

Las flores morían en mis manos

porque la danza salvaje de la alegría

les destruía el corazón



Recuerdo las negras mañanas de sol

cuando era niña

es decir ayer

es decir hace siglos



Señor

La jaula se ha vuelto pájaro

y ha devorado mis esperanzas



Señor

La jaula se ha vuelto pájaro

Qué haré con el mied



Tradução de Wagner Mourão Brasil:



Senhor

A gaiola virou pássaro

e voou

e meu coração está louco

porque uiva para a morte

e sorri detrás do vento

aos meus delírios



Que farei com o medo

Que farei com o medo



Já não baila a luz em meu sorriso

nem as estações queimam pombas em minhas ideias

Minhas mãos se desnudaram

e foram-se para onde a morte

ensina a viver os mortos



Senhor

O ar castiga-me o ser

Detrás do ar há monstros

que bebem meu sangue



É o desastre

É a hora do vazio nenhum vazio

É a hora de colocar ferrolho nos lábios

ouvir os condenados gritarem

contemplar a cada um de meus nomes

enforcados no nada.



Senhor

tenho vinte anos

Também meus olhos têm vinte anos

e no entanto não dizem nada



Senhor

Consumou-se minha vida em um instante

A última inocência explodiu

Agora é nunca ou jamais

ou simplesmente fui



Como não me suicido defronte a um espelho

e desapareço para reaparecer no mar

onde um grande barco me esperaria

com as luzes acesas?



Como não retiro minhas veias

e faço com elas uma escada

para ouvir o outro lado da noite?



O princípio deu à luz o fim

Tudo continuará igual

Os sorrisos erodidos

O interesse interessado

As perguntas de pedra em pedra

As gesticulações que arremedam o amor

Tudo continuará igual



Mas meus braços insistem em abraçar o mundo

porque ainda não lhes ensinaram

que já é demasiadamente tarde



Senhor

Expulsa os féretros de meu sangue



Recordo minha meninice

quando eu era uma anciã

As flores morriam em minhas mãos

porque a dança selvagem da alegria

destruía-lhes o coração



Recordo as negras manhãs de sol

quando era menina

é como dizer ontem

é como dizer há séculos



Senhor

A gaiola virou pássaro

e devorou minhas esperanças



Senhor

A gaiola virou pássaro

Que farei com meu medo





(Ilustração: Hannah Yata - Crazy Erotic Paintings)

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