domingo, 30 de novembro de 2014

VENHO DE LONGE, TRAGO O PENSAMENTO, de Paulo Bomfim

      





Venho de longe, trago o pensamento

Banhado em velhos sais e maresias;

Arrasto velas rotas pelo vento

E mastros carregados de agonia.




Provenho desses mares esquecidos

Nos roteiros de há muito abandonados

E trago na retina diluídos

Os misteriosos portos não tocados.




Retenho dentro da alma, preso à quilha

Todo um mar de sargaços e de vozes,

E ainda procuro no horizonte a ilha




Onde sonham morrer os albatrozes...

Venho de longe a contornar a esmo,

O cabo das tormentas de mim mesmo.




(Transfiguração)



(Ilustração: Érika Cardoso - caça-dores)



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