segunda-feira, 17 de novembro de 2014

ESCOICEADOS, de Donizete Galvão




       


Meu pai e eu

nunca subimos

num alazão

que galopasse

ao vento.

Tínhamos

um burro

cinza-malhado:

o Ligeiro.

Foi apanhado

de um conhecido

por ninharia.

Chegou com fama

de sistemático,

cheio de refugos.

De trote tão curto

que dava dor

nas costelas.

De certa vez,

caímos do burro.

Meu pai e eu.

Eu e meu pai.

Embolados.

Joelhos esfolados

no pedregulho.

Levamos

bons coices.

Meu pai e eu.

Os dois

nunca subimos

na vida.




(Ruminações)




(Ilustração: John Keaton - father and son)






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