domingo, 10 de setembro de 2023

O POETA DISSE, de Renato Augusto Farias de Carvalho

 




"De tudo fica um pouco. (...)

este vidro de relógio

partido em mil esperanças. (...)

De tudo fica um pouco:

de mim; de ti; de Abelardo."



Carlos Drummond de Andrade





Nós ainda não tínhamos atravessado a baía

e adivinhávamos

céus, luas,



um pouco de riso, um pouco de dor.

Tudo apressava o nosso amor

às longas noites

de Paquetá.



Quanto tempo faz?



Uma toalha bordada,

o paredão de concreto,

pernas trémulas de medo

e a ansiedade



na intermitência do cansaço.



Cadê o menino esbelto com lentes grossas

escavando mentiras

no gozo dos afagos?



Um brinde à moça da madrugada e às

mordidas do primeiro amor,

folhetim de canções

vividas com vagar



na vacilante e quente areia de Paquetá!



(Ilustração: Benedito Calixto - Ilha de Paquetá)


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