sexta-feira, 11 de março de 2022

O SOM EMBUTIDO NA MATÉRIA, de Reynaldo Jardim

 




O Som se oculta no

Lenho da madeira,

Cordas de piano, mesa

De bar, corpo de cristal

Ou vidro ordinário,

Se esconde, o Som, nos

Másculos do corpo, couro

Do tamborim, no

Stradivarius, ossário

Dos animais carnívoros

Ou não.

Em silêncio o Som

Aguarda que o libertem

Da matéria bruta ou

Manufaturada, para

Expressar sua angústia,

Melodia, ruído, linguagem

Áspera, doce, requintada,

Basta um leve toque

No atabaque, da baqueta

Na pele tensionada

Do surdo para que

Ele, o Som, rompa a

Mortalha e vibre no ar

O ritmo do samba sincopado.

Ele, o Som, grita quando

A porta bate forte no

Batente e se desespera

Quando mãos desajeitadas

Foram, dele o irritante

Arranhar de lixa polindo

A ferrugem dos cascos

Dos navios.

O Som implora que

Todos o tratem com

A delicadeza de um

João Gilberto.




(Ilustração: Heitor dos Prazeres - o flautista e o ritmista)



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