domingo, 9 de junho de 2019

LÍRICA DO CIBORGUE*, de E. M. de Melo e Castro




o ciborgue habita

debaixo da tua pele



pouco a pouco

ele toma conta

de todos os teus

sentidos e não sentidos



com os olhos ele vê

as cores que não há



nos ouvidos

músicas silenciosas



pela pele os toques

tocam nas coisas

imponderáveis

na boca os sabores

sabem de cor

os desgostos do gosto

no nariz

os odores são

as dores que sobem

desde a raiz

e no todo teu corpo

eles inauguram

os movimentos

que são teus pensamentos

na mágica do leve

levitarás em breve

nos espaços

abstratos

de todos os teus atos



trilhões das tuas células

serão sutilmente alteradas

e as funções

dos teus órgãos

serão novas



quando já não terás

um só eu



mas vários eus

que nem sequer

serás



é com eles

que para sempre

viverás

para além do óbvio



Homo Sapiens Ciborgue

irmão de mim próprio



* Um Ciborgue é um organismo cibernético, isto é, um organismo dotado de partes orgânicas e cibernéticas, geralmente com a finalidade de melhorar suas capacidades utilizando tecnologia artificial. (wikipedia)


(Néo-Poemas-Pagãos)



(Ilustração: Adrian Schmit - smiling cyborg)




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