segunda-feira, 22 de junho de 2015

A FÁBRICA DO POETA, de Emílio Moura








Fabrico uma esperança

como quem apaga

algo sujo num muro,

e ali, rápido, escreve:

Futuro.




Fabrico uma pureza

tão menina,

tão cristal e tão fonte

que, de repente,

É meu todo o horizonte.




Fabrico uma alegria

que é de ver as coisas

como se só agora

é que nascesse

a aurora.




Fabrico uma certeza

exata

para cada instante.

A vida não está atrás,

Mas adiante.




Fabrico com o que tiro

de mim mesmo e do mundo

meu dia.

E ao que, em síntese, sou

junto o que queria.




Fabrico uma hora densa,

como quem te descobre.

Ah, quem diria

que essa hora imensa

já é poesia?




(Itinerário Poético Poemas Reunidos)




(Ilustração: Érika Cardoso - catedrais)



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