quarta-feira, 10 de junho de 2015

BALLADE DU CONCOURS DE BLOIS / BALADA DO CONCURSO DE BLOIS, de François Villon













Je meurs de seuf auprès de la fontaine,

Chaud comme feu, et tremble dent à dent ;

En mon pays suis en terre lointaine ;

Lez un brasier frissonne tout ardent ;

Nu comme un ver, vêtu en président,

Je ris en pleurs et attends sans espoir ;

Confort reprends en triste désespoir ;

Je m'éjouis et n'ai plaisir aucun ;

Puissant je suis sans force et sans pouvoir,

Bien recueilli, débouté de chacun.





Rien ne m'est sûr que la chose incertaine ;

Obscur, fors ce qui est tout évident ;

Doute ne fais, fors en chose certaine ;

Science tiens à soudain accident ;

Je gagne tout et demeure perdant ;

Au point du jour dis : " Dieu vous doint bon soir ! "

Gisant envers, j'ai grand paour de choir ;

J'ai bien de quoi et si n'en ai pas un ;

Echoite attends et d'homme ne suis hoir,

Bien recueilli, débouté de chacun.





De rien n'ai soin, si mets toute ma peine

D'acquérir biens et n'y suis prétendant ;

Qui mieux me dit, c'est cil qui plus m'ataine,

Et qui plus vrai, lors plus me va bourdant ;

Mon ami est, qui me fait entendant

D'un cygne blanc que c'est un corbeau noir ;

Et qui me nuit, crois qu'il m'aide à pourvoir ;

Bourde, verté, aujourd'hui m'est tout un ;

Je retiens tout, rien ne sait concevoir,

Bien recueilli, débouté de chacun.





Prince clément, or vous plaise savoir

Que j'entends mout et n'ai sens ne savoir :

Partial suis, à toutes lois commun.

Que sais-je plus ? Quoi ? Les gages ravoir,

Bien recueilli, débouté de chacun.





Tradução de Sebastião Uchoa Leite:




Morro de sede quase ao pé da fonte,

Quente qual fogo, mas batendo os dentes;

Em meu país vivo além do Horizonte;

Junto a um braseiro tremo e fico ardente;

Nu como um verme. O traje: um presidente;

Rio no pranto e espero sem esperança;

Conforto acho na desesperança,

E alegro-me sem ter prazer algum;

tenho o poder sem força ou segurança;

E sou bem vindo a todos e a nenhum.




Só me é certo algo com que eu não conte;

nada é obscuro, exceto o que é evidente;

E sem dúvidas, fora as que defronte,

Tomo a ciência por mero acidente;

Conquisto tudo e fico dependente

Digo "Boa noite" se a aurora avança;

Deito-me sem controle em confiança;

Tenho alguns bens, mas sem vintém algum;

Sou um herdeiro mas sem ter herança,

E sou bem-vindo a todos e a nenhum




Descuido-me de tudo e suo a fronte

Para ter bens, sem ter um pretendente;

Com quem mais me afague, me confronte,

Quem mais me é veraz é quem mais mente;

É meu amigo que diz procedente

De um cisne alvo e um corvo a semelhança;

Em quem me nega enxergo uma aliança;

A patranha e a verdade acho comum;

recordo tudo sem a menor lembrança

E sou bem-vindo a todos e a nenhum.




Príncipe brando: se isso não vos cansa,

De tudo eu sei, e a mente não alcança;

Sou faccioso e sigo a lei comum.

Que faço? o quê? dos meus bens a cobrança,

E sou bem-vindo a todos e a nenhum.


(Ilustração: John Singer Sargent - clochard, 1904)



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