sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

A FLOR DO MARACUJÁ, de Catullo da Paixão Cearense







Encontrando-me com um sertanejo  
Perto de um pé de maracujá 
Eu lhe perguntei:  
Diga-me caro sertanejo  
Porque razão nasce roxa  
A flor do maracujá? 
Ah, pois então eu lhi conto  
A estória que ouvi contá 
A razão pro que nasci roxa  
A flor do maracujá 
Maracujá já foi branco  
Eu posso inté lhe ajurá 
Mais branco qui caridadi  
Mais brando do que o luá 
Quando a flor brotava nele  
Lá pros cunfim do sertão 
Maracujá parecia  
Um ninho de argodão 

Mais um dia, há muito tempo  
Num meis que inté num mi alembro  
Si foi maio, si foi junho  
Si foi janero ou dezembro  
Nosso sinhô Jesus Cristo  
Foi condenado a morrer 
Numa cruis crucificado  
Longe daqui como o quê 
Pregaro Cristo a martelo  
E ao vê tamanha crueza  
A natureza inteirinha  
Pois-se a chorá di tristeza  
Chorava us campu  
As foia, as ribera  
Sabiá também chorava  
Nos gaio a laranjera  
E havia junto da cruis  
Um pé de maracujá 
Carregadinho de flor 
Aos pé de nosso sinhô 
I o sangue de Jesus Cristo  
Sangui pisado de dô 
Nus pé du maracujá  
Tingia todas as flor 
Eis aqui seu moço 
A estoria que eu vi contá 
A razão proque nasce roxa  
A flor do maracujá. 



(Ilustração: flor de maracujá; foto da internet com autoria identificada na imagem)

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