quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

NO TREM DE FERRO, de Lúcio de Mendonça






Vinha sentado gravemente, mudo,
D'olhos baixos, obeso e venerando,
Mãos cruzadas no ventre, ruminando
Velhas rezas ou santo e duro estudo.


Ergue tímido o olhar, triste; contudo,
É paternal e bom; de quando em quando
Ao céu o volve, ao céu que vai passando
Pelas vidraças, empoeirado. Tudo


Nele respira a fé e cheira a igreja.
Por todos os seus poros Deus poreja.
Do seu breviário agora passa as folhas.


Pio varão! para este já começa
O reino do Senhor!... mas sai à pressa
E cai-lhe da batina — um saca-rolhas!


(Antologia de humorismo e sátira)


(Ilustração: Cícero Dias)


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