sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

A SUPERMARKET IN CALIFORNIA / UM SUPERMERCADO NA CALIFÓRNIA, de Allen Ginsberg






What thoughts I have of you tonight, Walt Whitman, forI walked down the sidestreets under the trees with a headache self-conscious looking at the full moon.


In my hungry fatigue, and shopping for images, I wentinto the neon fruit supermarket, dreaming of your enumerations!


What peaches and what penumbras! Whole familiesshopping at night! Aisles full of husbands! Wives in theavocados, babies in the tomatoes! — and you, Garcia Lorca, what were you doing down by the watermelons?


I saw you, Walt Whitman, childless, lonely old grubber,poking among the meats in the refrigerator and eyeing the grocery boys.


I heard you asking questions of each: Who killed thepork chops? What price bananas? Are you my Angel?


I wandered in and out of the brilliant stacks of cansfollowing you, and followed in my imagination by the storedetective.


We strode down the open corridors together in oursolitary fancy tasting artichokes, possessing every frozendelicacy, and never passing the cashier.


Which way are we going, Walt Whitman? The doors close in an hour. Which way does your beard point tonight?
(I touch your book and dream of our odyssey in thesupermarket and feel absurd.)


Will we walk all night through solitary streets? Thetrees add shade to shade, lights out in the houses, we'll both be lonely.


Will we stroll dreaming of the lost America of lovepast blue automobiles in driveways, home to our silent cottage?


Ah, dear father, graybeard, lonely old courage-teacher,what America did you have when Charon quit poling his ferry and you got out on a smoking bank and stood watching the boat disappear on the black waters of Lethe? Berkeley, 1955





Tradução de Cláudio Willer:





Como estive pensando em você esta noite, Walt Whitman, enquanto caminhava pelas ruas sob as arvores, com dor de cabeça, autoconsciente, olhando a lua cheia.

No meu cansaço faminto, fazendo o Shopping das imagens, entrei no supermercado das frutas de néon sonhando com tuas enumerações !

Que pêssegos e que penumbras ! Famílias inteiras fazendo suas compras a noite ! Corredores cheios de maridos! Esposas entre os abacates, bebês nos tomates ! - e você, Garcia Lorca, o que fazia lá, no meio das melancias ?

Eu o vi WW, s/ filhos, velho vagabundo solitário, remexendo nas carnes do refrigerador e lançando olhares para os garotos da mercearia.


Ouvi-o fazer perguntas a cada um deles; Quem matou as costeletas de porco ? Qual o preço das bananas ? Será você meu Anjo?


Caminhei entre as brilhantes pilhas de latarias, seguindo-o e sendo seguido na minha imaginação pelo detetive da loja. Perambulamos juntos pelos amplos corredores com nosso passo solitário, provando alcachofras, pegando cada um dos petiscos gelados e nunca passando pelo caixa.

Aonde vamos, WW ? As portas fecharão em uma hora. Para quais caminhos aponta tua barba esta noite?

(Toco teu livro e sonho com nossa odisséia no supermercado e sinto-me absurdo.)


Caminharemos a noite toda por solitárias ruas? As árvores somam sombras às sombras, luzes apagam-se nas casas, ficaremos ambos sós.

Vaguearemos sonhando com a América perdida do amor,passando pelos automóveis azuis nas vias expressas, voltando para nosso silencioso chalé ?


Ah, pai querido, barba grisalha, velho e solitário professor de coragem, qual América era a sua quando Caronteparou de impelir sua balsa e Você na margem nevoenta, olhando a barca desaparecer nas negras águas do Letes ?




(Uivo, Kaddish e Outros Poemas)



(Ilustração: foto de Thomas Eakins – Walt Withman in Candem, NJ, 1887)





Nenhum comentário:

Postar um comentário