terça-feira, 29 de dezembro de 2009

SONNET / SONETO, de Félix Arvers











Mon âme a son secret, ma vie a son mystère,

un amour eternel en un moment conçu;

Le mal est sans espoir, aussi j'ai dú le taire,

et celle qui l'a fait n'en a janais riens su.




Helas! j'aurai passé près d'elle inaperçu


toujours à ses côtes et toujours solitaire;

et j'aurai jusqu'au bout fait mon temps sur la terre

n'osant rien demander, et n'ayant rien reçu.




Pour elle, quoique Dieu l'ait faite bonne et tendre,

elle ira son chemin, distraite, et sans entendre

ce murmure d'amour elevé sur ses pas;




à l'austère devoir pieusement fidèle,

elle dira, lisant ces vers tout remplis d'elle,

"Quelle est donc cette femme"?" et ne comprendra pas....




Tradução de Guilherme de Almeida:


Tenho na alma um segredo e um mistério na vida:

um amor que nasceu, eterno, num momento.

É sem remédio a dor; trago-a pois escondida,

e aquela que a causou nem sabe o meu tormento.



Por ela hei de passar, sombra inapercebida,

sempre a seu lado, mas num triste isolamento,

e chegarei ao fim da existência esquecida

sem nada ousar pedir e sem um só lamento.




E ela, que entanto Deus fez terna e complacente,

há de, por seu caminho, ir surda e indiferente

ao murmúrio de amor que sempre a seguirá.




A um austero dever piedosamente presa,

ela dirá lendo estes versos, com certeza:

"Que mulher será esta? " e não compreenderá.




Tradução de J.G. de Araújo Jorge:




Tenho um segredo na alma, e um mistério na vida:

Um repentino amor que me empolga e devora;

Louca paixão que trago em minha alma escondida

E aquela que a inspirou, entretanto ignora…



Ai, de mim! Sigo só, mesmo a seu lado, embora

Leve no coração sua imagem querida

Até que venha a morte, e amanhã, como agora,

Nada possa esperar dessa paixão proibida…



E ela que a alma possui só de ternuras cheia

Seguirá seu caminho, indiferente, e alheia

Ao sussurro de amor que em vão a seguirá…



Presa a um nobre dever, a um tempo fiel e bela,

Dirá depois que ler meus versos cheios dela:

-”Que mulher será essa?…” E não compreenderá…




Tradução de Olegário Mariano:




Tenho um mistério na alma e um segredo na vida:

Eterno amor que, num momento, apareceu.

Mal sem remédio, é dor que conservo escondida

E aquela que o inspirou nem sabe quem sou eu.



A seu lado serei sempre a sombra esquecida

De um pobre homem de quem ninguém se apercebeu.

E hei de esse amor levar ao fim da humana lida,

Certo de que dei tudo e ele nada me deu.



E ela que Deus formou terna, pura e distante,

Passa sem perceber o murmúrio constante

Do amor que, a acompanhar-lhe os passos, seguirá.



Fiel ao dever que a fez tão fria quanto bela,

Perguntará, lendo estes versos cheios dela:

"Que mulher será esta?" E não compreenderá.




Tradução de Francisco Miguel de Moura:




Minha vida é mistério e na alma há um segredo

De amor eterno, num instante percebido,

Mal sem cura, do qual por meu medo duvido,

E ela, a causadora, nada sabe do enredo.



Ai! Eu passo por ela tão despercebido,

Sempre fico a seu lado e sempre solitário,

E farei até o fim, a morte em meu calvário,

Sem ousar pedir nada e nada hei recebido.



E a ela, que Deus fez distante, doce e pura,

Os sussurros de amor sobem até a altura

Dos passos no caminho e aonde quer que vá.



No austero mister, fiel e piamente bela,

Dirá lendo os meus versos, todos cheios dela,

“mas quem é essa moça?” E não compreenderá.




Tradução de J. Santiago Naud:




Minha alma e seu segredo, é vida este mistério;

Amor de eternidade em tempo concebido:

Mal sem cura, calado com todo o seu critério,

Por aquela que o fez sem dele haver sabido.



Ai de mim, que passei por ela imperceptível,

Sempre junto ao seu lado, no entanto solitário,

Até o fim dos meus dias cruzando esse calvário

Sem nada ousar pedir, a nada receptível.



E ela, que Deus criou assim doce e sensível,

Seguirá seu caminho, distraída, inaudível

Nos murmúrios do amor alçado ao seu andar.



Grave em seu proceder, piedosamente bela,

Dirá, talvez, se ler versos tão cheios dela

“Quem seria essa dama?”, sem nada adivinhar.




Tradução de Luís Caminha:





De amor guardo um segredo, um mistério na vida,

tão perene é a hora em que nos conhecemos.

Não posso querer mais: o sonho em que lho diga

há-de ser o pior de entre os meus pesadelos.



Estarei sempre só nesta viagem sofrida

porque estar ao seu lado é todo o meu desejo.

E quando enfim chegar o meu último dia

nem saberá que foi demasiado cedo.


É doce o gesto, é terno o olhar que ela oferece

ao longo do caminho... E porém desconhece

o murmúrio de amor que a minha espera traz;



fiel à sua escolha, em seu dever austera,

destes versos dirá, que apenas falam dela:

«Quem é esta mulher?» E não compreenderá.



Tradução de Ialmar Pio Schneider:



Minh´alma tem segredo e a vida seu mistério,

um amor eternal no instante conhecido,

o mal sem esperança é também muito sério,

mas aquela que o fez jamais terá sabido.



Ai de mim ! Passarei perto dela perdido,

sempre junto a seu lado e, no entanto, gaudério,

e terei justamente aqui meu tempo térreo,

não ousando pedir e nada recebido.



Por ela, que Deus fez de espírito tão brando,

ela caminhará, distraída e ignorando

o murmúrio de amor que aos seus passos irá;



para austero dever, piedosamente fiel,

dos meus versos dirá, repletos do seu mel:

“Que mulher será esta? E não compreenderá.



Tradução de Oswaldo Orico:



Guardo um segredo n'alma; existe em minha vida

Um mistério; este amor que não pude evitar.

Jamais lhe revelei esta paixão proibida.

Que para um mal sem cura o remédio é calar.



Andarei por aí, como sombra perdida,

Sem que imagine que a seu lado vim pousar,

E, que assim ficarei para o resto da vida,

Sem lhe pedir sequer a graça dum olhar;



Ela, que é toda amor e que é toda ternura,

Há de ser sempre a mesma insensível criatura

Indiferente à voz que vibra, onde ela está.



Escrava do dever, que a torna tão feliz,

Ainda dirá, lendo estes versos que lhe fiz:

"Que mulher será esta?" E não compreenderá.



Tradução de Wagner Mourão Brasil:


Trago na alma um segredo; na vida um mistério;

Um eterno amor, num instante percebido.

A dor é incurável, razão do meu silêncio,

E quem a causou jamais soube do ocorrido.



Ai! Passei ao seu lado desapercebido,

Sempre junto dela, e no entanto solitário,

Nesta terra até o fim viverei meu calvário,

Nada ousando pedir e nada tendo obtido.



Ainda que feita por Deus doce e querida,

Não entenderá, ao caminhar distraída,

Esse murmúrio de amor que provocará;



Piamente fiel à dedicação austera,

Dirá, lendo estes versos tão repletos dela:

“Quem será esta mulher?”, e não compreenderá.


Tradução de Bastos Tigre:




Guardo um segredo n’alma e um mistério na vida,

Imorredouro amor que irrompeu de momento.

Se o mal é sem remédio, a queixa é descabida

E a que me fez o mal, nunca ouviu meu lamento.



Por ela já passei – sombra despercebida,

E ao meu lado a sentir, no meu isolamento!

Ao termo chegarei dessa terrena lida,

E não ouso pedir, e receber não tento.



Quanto a ela, apesar da doçura e carinho

Com que Deus a dotou, seguirá seu caminho,

Sem ouvir que a acompanha um murmúrio de amor...



E, fiel ao seu dever que austeramente zela,

Ela dirá, lendo os meus versos plenos dela:

– “O soneto de Arvers tem mais um tradutor!”




Tradução de Dom Pedro II:



Segredo d'alma, da existência arcano,


Eterno amor num instante concebido,

Mal sem esperança, oculto a ente humano,

E nunca de quem fê-lo conhecido.



Ai! Perto dela desapercebido

Sempre a seu lado, e só, cruel engano,

Na terra gastarei meu ser insano

Nada ousando pedir e havendo tido!



Se Deus a fez tão doce e carinhosa,

Contudo anda inatenta e descuidosa

Do murmúrio de amor que a tem seguido.



Piamente ao cru dever sempre fiel

Dirá lendo a poesia, seu painel:

"Que mulher é?" Sem tê-lo compreendido.




Tradução de José Lino Grünewald:


Minha alma tem segredo e esta vida, um mistério,

Um sempre eterno amor num momento nascido;

Também devo calar o mal que é deletério,

E aquela que assim fez jamais teve-o sabido.



Ai! por ela eu passei, perto, despercebido

Incessante a seu lado e, no entanto, funério;

E teria sido ao fim, até o cemitério,

Nada pedindo, nada havendo recebido.



Já que Deus a fez boa e terna, vai seguir

A trilha, distraída e sem poder ouvir

O murmúrio de amor por sobre seu andar;



Ao austero dever que piamente zela,

Dirá, lendo estes versos, eles plenos dela,

“Quem será essa mulher?” e não vai desvendar.






(Ilustração: Alfred Stevens - girl reading)











Um comentário:

  1. Caríssimo, ver meu FV em http://ditosbemditos.blogspot.com/2010/11/alexis-felix-arver-1806-1850.html

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