sábado, 13 de junho de 2009

DIE VIERTE ELEGIE / QUARTA ELEGIA, de Rainer Maria Rilke








O BÄUME Lebens, o wann winterlich?


Wir sind nicht einig. Sind nicht wie die Zug-

vögel verständigt. Überholt und spät,

so drängen wir uns plötzlich Winden auf

und fallen ein auf teilnahmslosen Teich.

Blühn und verdorrn ist uns zugleich bewußt.

Und irgendwo gehn Löwen noch und wissen,

solang sie herrlich sind, von keiner Ohnmacht.



Uns aber, wo wir Eines meinen, ganz,

ist schon des andern Aufwand fühlbar. Feindschaft

ist uns das Nächste. Treten Liebende

nicht immerfort an Ränder, eins im andern,

die sich versprachen Weite, Jagd und Heimat.

Da wird für eines Augenblickes Zeichnung

ein Grund von Gegenteil bereitet, mühsam,

daß wir sie sähen; denn man ist sehr deutlich

mit uns. Wir kennen den Kontur

des Fühlens nicht: nur, was ihn formt von außen.

Wer saß nicht bang vor seines Herzens Vorhang?

Der schlug sich auf: die Szenerie war Abschied.

Leicht zu verstehen. Der bekannte Garten,

und schwankte leise: dann erst kam der Tänzer.

Nicht der. Genug! Und wenn er auch so leicht tut,

er ist verkleidet und er wird ein Bürger

und geht durch seine Küche in die Wohnung.

Ich will nicht diese halbgefüllten Masken,

lieber die Puppe. Die ist voll. Ich will

den Balg aushalten und den Draht und ihr

Gesicht und Aussehn. Hier. Ich bin davor.

Wenn auch die Lampen ausgehn, wenn mir auch

gesagt wird: Nichts mehr –, wenn auch von der Bühne

das Leere herkommt mit dem grauen Luftzug,

wenn auch von meinen stillen Vorfahrn keiner

mehr mit mir dasitzt, keine Frau, sogar

der Knabe nicht mehr mit dem braunen Schielaug:

Ich bleibe dennoch. Es giebt immer Zuschaun.



Hab ich nicht recht? Du, der um mich so bitter

das Leben schmeckte, meines kostend, Vater,

den ersten trüben Aufguß meines Müssens,

da ich heranwuchs, immer wieder kostend

und, mit dem Nachgeschmack so fremder Zukunft

beschäftigt, prüftest mein beschlagnes Aufschaun, –

der du, mein Vater, seit du tot bist, oft

in meiner Hoffnung, innen in mir, Angst hast,

und Gleichmut, wie ihn Tote haben, Reiche

von Gleichmut, aufgiebst für mein bißchen Schicksal,

hab ich nicht recht? Und ihr, hab ich nicht recht,

die ihr mich liebtet für den kleinen Anfang

Liebe zu euch, von dem ich immer abkam,

weil mir der Raum in eurem Angesicht,

da ich ihn liebte, überging in Weltraum,

in dem ihr nicht mehr wart . . . .: wenn mir zumut ist,

zu warten vor der Puppenbühne, nein,

so völlig hinzuschaun, daß, um mein Schauen

am Ende aufzuwiegen, dort als Spieler

ein Engel hinmuß, der die Bälge hochreißt.

Engel und Puppe: dann ist endlich Schauspiel.

Dann kommt zusammen, was wir immerfort

entzwein, indem wir da sind. Dann entsteht

aus unsern Jahreszeiten erst der Umkreis

des ganzen Wandelns. Über uns hinüber

spielt dann der Engel. Sieh, die Sterbenden,

sollten sie nicht vermuten, wie voll Vorwand

das alles ist, was wir hier leisten. Alles

ist nicht es selbst. O Stunden in de Kindheit,

da hinter den Figuren mehr als nur

Vergangnes war und vor uns nicht die Zukunft.

Wir wuchsen freilich und wir drängten manchmal,

bald groß zu werden, denen halb zulieb,

die andres nicht mehr hatten, als das Großsein.

Und waren doch, in unserem Alleingehn,

mit Dauerndem vergnügt und standen da

im Zwischenraume zwischen Welt und Spielzeug,

an einer Stelle, die seit Anbeginn

gegründet war für einen reinen Vorgang.



Wer zeigt ein Kind, so wie es steht? Wer stellt

es ins Gestirn und giebt das Maß des Abstands

ihm in die Hand? Wer macht den Kindertod

aus grauem Brot, das hart wird, – oder läßt

ihn drin im runden Mund, so wie den Gröps

von einem schönen Apfel? . . . . . . Mörder sind

leicht einzusehen. Aber dies: den Tod,

den ganzen Tod, noch vor dem Leben so

sanft zu enthalten und nicht bös zu sein,

ist unbeschreiblich.




Tradução de Dora Ferreira da Silva:




Ó árvores da vida, quando atingireis o inverno?

Ignoramos a unidade. Não somos lúcidos como as aves

migradoras. Precipitados ou vagarosos

nos impomos repentinamente aos ventos

e tornamos a cair num lago indiferente.

Conhecemos igualmente o florescer e o murchar.

No entanto, em alguma parte, vagueiam leões ainda,

alheios ao desamparo enquanto vivem seu esplendor.


Nós, porém, quando pensamos totalmente o Uno,

logo sentimos o lastro do Outro. A hostilidade

aguarda, muito perto. Os amantes não hesitam, sem cessar,

entre limites – eles que aspiravam refúgio, espaço, busca?

Compõe-se, então, para a fugitiva imagem de um momento

Um fundo de oposição, penosamente, para que

a possamos ver; que clareza se nos proporciona,

a nós que ignoramos o contorno da sensação,

aderidos ao exterior de sua forma. – Quem

desconhece a angustiosa espera diante

do palco sombrio do próprio coração?

Olhai: ergue-se o pano sobre o cenário

de um adeus. Fácil de compreender. O jardim habitual

a oscilar ligeiramente. Só então aparece o bailarino.

Ele não. Basta. E enquanto se move com desenvoltura,

muda de aspecto; torna-se um burguês

e entra na casa pela porta da cozinha.

Não quero essas máscaras ocas, prefiro

o boneco de corpo cheio. Susterei

o títere, os cordéis e o rosto

feito de aparência. Estou aqui, à espera.

Ainda que as lâmpadas se apaguem, ainda

que me digam: “acabou-se”, - ainda que do palco

se evole o vácuo na corrente de ar cinzento,

ainda que os antepassados silenciosos

não estejam ao meu lado, nem mulher, nem mesmo

a criança de olhos castanhos e estrábicos, -

ficarei à espera. Sempre há o que ver.


Não tenho razão? Tu, que por mim provaste

a amargura da vida, pai, penetrando

a minha, tu, que provaste a infusão

turva de meu destino, quando ao teu lado

crescia, e, inquieto pelo ressaibo de futuro

tão estranho, puseste à prova

meu olhar velado ainda; - tu, meu pai,

que desde que morreste, tantas vezes

na esperança que levo em mim, tens medo,

e que por meu destino incerto abandonas

a serenidade dos mortos, reinos

de serenidade, - não tenho razão?


E vós – não tenho razão? – vós que me

Amaste pelo tímido início de amor

que vos tinha e do qual me evadia,

pois o espaço que amava em vosso rosto

em espaço cósmico se transformava. – Enquanto

aguardo diante do palco dos títeres, - não,

quando me transformar inteiramente num intenso

olhar, um Anjo surgirá para refazer

o equilíbrio, como o ator que anima os títeres.

Anjo e boneco: haverá por fim espetáculo.

Congrega-se então o que, sem cessar,

nossa existência mesma desagrega. E nasce

das nossas estações o ciclo da transformação

total. Muito acima de nós, o Anjo brincará.

Olhai, os moribundos não mais suspeitariam

que é pretexto e irrealidade tudo que aqui

fazemos. Oh, dias da infância, em que atrás

das figuras havia mais do que passado e em que

diante de nós não se abria o futuro!

Crescíamos, é certo, aspirando, às vezes,

tornar-nos grandes, talvez por amor

daqueles que nada mais tinham, senão

o “ser grandes”. E lá permanecíamos,

em nossos caminhos solitários,

na alegria do perdurável, nos limites

do mundo e do brinquedo, no espaço que desde

a origem foi criado para um puro evento.


Quem mostra uma criança tal como é? Quem a

situa na constelação com a medida da distância

em suas mãos? Quem faz sua morte

com pão cinzento que endurece, - ou a abandona

dentro da boca redonda, como o coração

de uma bela maçã?... Compreendemos facilmente

os criminosos. Mas isto: conter a morte,

toda a morte, ainda antes da vida,

tão docemente contê-la e não ser perverso,

isto é inefável.





(Elegias de Duíno)





(Ilustração: Roberto Magalhães - poeta)

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