domingo, 11 de agosto de 2024

POEMA DA GARE DO ASTAPOVO, de Mário Quintana

 

 




O velho Leon Tolstoi fugiu de casa aos oitenta anos

E foi morrer na gare de Astapovo!

Com certeza sentou-se a um velho banco,

Um desses velhos bancos lustrosos pelo uso

Que existem em todas as estaçõezinhas pobres do mundo,

Contra uma parede nua…

Sentou-se… e sorriu amargamente

Pensando que

Em toda a sua vida

Apenas restava de seu a Glória,

Esse irrisório chocalho cheio de guizos e fitinhas

Coloridas

Nas mãos esclerosadas de um caduco!

E então a Morte,

Ao vê-lo sozinho àquela hora

Na estação deserta,

Julgou que ele estivesse ali à sua espera,

Quando apenas sentara para descansar um pouco!

A Morte chegou na sua antiga locomotiva

(Ela sempre chega pontualmente na hora incerta…)

Mas talvez não pensou em nada disso, o grande Velho,

E quem sabe se até não morreu feliz: ele fugiu…

Ele fugiu de casa…

Ele fugiu de casa aos oitenta anos de idade…

Não são todos os que realizam os velhos sonhos da infância!





(Ilustração: Corpo de Tolstoi sendo transportado da estação de Astapovo, 1910)

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