Os
homens temem as longas viagens,
os
ladrões da estrada, as hospedarias,
e
temem morrer em frios leitos
e
ter sepultura em terra estranha.
Por
isso os seus passos os levam
de
regresso a casa, às veredas da infância,
ao
velho portão em ruínas, à poeira
das
primeiras, das únicas lágrimas.
Quantas
vezes em
desolados
quartos de hotel
esperei
em vão que me batesses à porta,
voz
de infância, que o teu silêncio me chamasse!
E
perdi-vos para sempre entre prédios altos,
sonhos
de beleza, e em ruas intermináveis,
e no
meio das multidões dos aeroportos.
Agora
só quero dormir um sono sem olhos
e
sem escuridão, sob um telhado por fim.
À
minha volta estilhaça-se
o
meu rosto em infinitos espelhos
e
desmoronam-se os meus retratos nas molduras.
Só
quero um sítio onde pousar a cabeça.
Anoitece
em todas as cidades do mundo,
acenderam-se
as luzes de corredores sonâmbulos
onde
o meu coração, falando, vagueia.
(Um
Sítio Onde Pousar A Cabeça)
(Ilustração: Gustave Caillebotte -
dans un café, 1880)
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