sexta-feira, 23 de agosto de 2024

DA SERRA DA ARÁBIDA, de Frei Agostinho da Cruz

 



Do meio desta Serra derramado

A saudosa vista nas salgadas

Águas, humildes, quando e quando inchadas,

Conforme a qual o vento vai soprando,



Estou comigo só considerando,

Donde foram parar cousas passadas,

E donde irão presentes mal fundadas,

Que pelo menos passos vão passando.



Oh, qual se representa nesta parte

Aquela derradeira hora da vida,

Tão devida, tão certa e tão incerta!?



Em quantas tristes partes se reparte,

Dentro nesta alma minha entristecida,

A dor, que tem tais extremos me desperta?





(Os Homens e os Livros” (séculos XVI e XVII), Lisboa, 1971)



(Ilustração: Convento da Arrábida - Setúbal, Portugal; foto da internet sem indicação de autoria)

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