A saudosa vista nas salgadas
Águas, humildes, quando e quando inchadas,
Conforme a qual o vento vai soprando,
Estou comigo só considerando,
Donde foram parar cousas passadas,
E donde irão presentes mal fundadas,
Que pelo menos passos vão passando.
Oh, qual se representa nesta parte
Aquela derradeira hora da vida,
Tão devida, tão certa e tão incerta!?
Em quantas tristes partes se reparte,
Dentro nesta alma minha entristecida,
A dor, que tem tais extremos me desperta?
(Os Homens e os Livros” (séculos XVI e XVII), Lisboa, 1971)
(Ilustração: Convento da Arrábida - Setúbal, Portugal; foto da internet sem indicação de autoria)
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