segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

OS TRÊS NOMES DO GATO, Lázaro Barreto

 





(Paráfrase de um poema de T. S. Eliot)



Dar nome aos gatos não é tarefa fácil nem fútil.

Muitas vezes quando digo que o gato deve ter

TRÊS NOMES DIFERENTES,

olham-me de novo, julgam-me biruta.

Mas assim é, por mais que estranhem e gozem.

Primeiro o nome corrente, de uso da família,

que pode ser Poetinha, Alípio ou Conceição.

Depois o escolhido de pessoas refinadas

(extravagantes ou mesmo sóbrias),

como Menelau, Polonaise ou Pixinguinha.

Por último o mais íntimo e solitário,

que ele mais necessita para manter o orgulho,

esticar os bigodes, enrodilhar-se na cadeira

ou pular o muro como num vôo retilíneo,

que pode ser Diadorim, Caracóia ou Ana Lívia Plurabelle,

nome que nenhum outro gato ostenta.



Mas além desses e acima de tudo e de todos

Há um nome especial a preferir

– e esse ninguém nunca saberá.

É o nome que nenhuma pesquisa pode descobrir,

e que só o próprio gato sabe,

e que nunca dirá a ninguém.

Assim

Se você vir um gato em profunda meditação,

Os olhos abertos mas cegos, as unhas em inocente repouso,

a razão é sempre a mesma:

sua mente está ocupada na contemplação de seu profundo

e inescrutável e singular NOME.



(Ilustração: Hiroaki Takahashi (Shotei) - chat blanc, 1924)

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