segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

SONETO OCO, de Carlos Pena Filho

 


Neste papel levanta-se um soneto,

de lembranças antigas sustentado,

pássaro de museu, bicho empalhado,

madeira apodrecida de coreto.



De tempo e tempo e tempo alimentado,

sendo em fraco metal, agora é preto.

E talvez seja apenas um soneto

de si mesmo nascido e organizado.



Mas ninguém o verá? Ninguém. Nem eu,

pois não sei como foi arquitetado

e nem me lembro quando apareceu.



Lembranças são lembranças, mesmo pobres,

olha pois este jogo de exilado

e vê se entre as lembranças te descobres.





(Ilustração: Francisco de Goya y Lucientes - retrato do escritor Gaspar Melchor de Jovellanos)

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