quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

GEOGRAFIA I, de Adalberto de Queiroz


  

Quando a Vila Jaiara era do mundo

O centro vital; se mais longe houvesse,

Lá chegara, aos saltos, de susto tomado

Em mim mesmo; silente rezava o missal.



Corria pelos campos – da savana, cerrado.



O medo do sistema heliocêntrico

Ainda não perdera: o medo de ser

Só. Eu vivia com meus irmãos e irmãs –



Éramos uma centena de bichinhos

Em torno de nossa mãe adotada,

A quem chamávamos de Senhora.



E em torno dela, tudo girava, girava…



Os grandes mandavam-nos, sorrateiros,

Andar pelo cerrado em busca de tudo:

Gabirobas, cajuzinhos, goiabas …

Na Vila Jaiara havia tanta coisa mais.

A casa de Helena; de deuses onde doces.

Que à caminhada tornava clara para nós.

Centro luminoso em que a ceia do Senhor.



Não havia São Paulo ou Rio de Janeiro –

No máximo: Belo Horizonte, Araxá

Povoavam nossos sonhos.

E talvez Ouro Preto e Divinópolis –

Onde Dora reinava…



– Goiânia, São Petersburgo e Tegucigalpa – só no Atlas.



Anápolis era outra estória: a cidade, o comércio longe demais…



Ali na Jaiara estava o centro de tudo

e no centro de tudo o amor:

Laíde Epifânia me nomeara “Maninho”.



Naquele tempo, na nossa vila, não passava um rio.

Mas havia a fábrica de tecidos, onde Jorge –

Noivo de minha irmã – tecia a união e afeto

E me ensinava a andar de bicicleta.



Do Vietnã, só soube no ginásio.




(Cadernos de Sizenando, vol. II, 2016)

(Ilustração: Vila Jaiara - Anápolis - linha de produção da fábrica de tecidos em 1965)

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