quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

ORIGEM, de Adalcinda Camarão

  


Eu queria mesmo, ó grande mar azul

que conhecesses o meu cabelo solto ao vento,

tão parecido com o teu pensamento

livre, crescendo sempre...

Eu fazia questão que ouvisses o meu soluço abafado

como de tuas ondas,

que mal põem à tona a cabeça o vento esmaga.

Eu queria, afinal, que me visses despida

com a tua correnteza que passa

sem pudor ou malícia - transparente.

Tu reconhecerias

no contorno transluzente do meu corpo

a desordem ritmada da tua carícia que minha mãe bebeu

no dia em que se banhou nas tuas espumas,

quase ao me dar à luz,

e mergulhou, afinal, sondando-te a profundidade,

onde encontrou minhalma!

 

(Antologia Poética. Belém: 1995)

 

(Ilustração: Victor Meirelles – Moema)

 

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