quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

GATO, de Alexandre O’Neill

 





Que fazes por aqui, ó gato?

Que ambiguidade vens explorar?

Senhor de ti, avanças, cauto,

meio agastado e sempre a disfarçar

o que afinal não tens e eu te empresto,

ó gato, pesadelo lento e lesto,

fofo no pelo, frio no olhar!



De que obscura força és a morada?

Qual o crime de que foste testemunha?

Que deus te deu a repentina unha

que rubrica esta mão, aquela cara?

Gato, cúmplice de um medo

ainda sem palavras, sem enredos,

quem somos nós, teus donos ou teus servos?



(Poesias completas)



(Ilustração: Fernando Botero - Niña con gato)



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