quarta-feira, 4 de agosto de 2021

SONETO 1 / SONET 1, de Louise Labé

 


Si jamais il y eut plus clairvoyant qu'Ulysse,

Il n'aurait jamais pu prévoir que ce visage,

Orné de tant de grâce et si digne d'hommage,

Devienne l'instrument de mon affreux supplice.

 

Cependant ces beaux yeux, Amour, ont su ouvrir

Dans mon coeur innocent une telle blessure

– Dans ce coeur où tu prends chaleur et nourriture –

Que tu es bien le seul à pouvoir m'en guérir.

 

Cruel destin ! Je suis victime d'un Scorpion,

Et je ne puis attendre un remède au poison

Que du même animal qui m'a empoisonnée!

 

Je t'en supplie, Amour, cesse de me tourmenter!

Mais n'éteins pas en moi mon plus précieux désir,

Sinon il me faudra fatalement mourir. 

 

 

Tradução de Wagner Mourão Brasil e Isaias Edson Sidney:

 

Se jamais houve alguém mais astuto que Odisseus,

Não teria previsto esse alguém que um tal rosto

Pudesse me causar tanta dor e desgosto,

Por ser o mais formoso e mais belo que um deus.

 

Tais belos olhos, no entanto, Amor, souberam cavar

Nesse meu coração inocente tal ferida

– Nesse coração quente a te dar sempre guarida –

Que tu, somente tu, tens poder de curar.

 

Cruel destino! Fez-me picar o escorpião,

E só posso esperar alívio para esse mal

Picando-me de novo esse mesmo animal!

 

Eu to suplico, Amor, paz ao meu coração!

Não tentes, no entanto, extinguir-me o querer,

Sem ele, eu estarei fatalmente a morrer.

 

Traducão de Sergio Duarte:


Nem heróis como Ulisses e outros mais

Por mais sagazes e por mais divinos

Cheios de graça e louros peregrinos

Desafios provaram aos meus iguais.

 

Brilho desses olhos tão sensuais

Tanto inflamou meus sonhos femininos

Que para meus ardores repentinos

Não há remédio, se vós não m'o dais.

 

Ó dura sorte, que me faz igual

A quem pede socorro ao escorpião

Contra o veneno do mesmo animal.

 

Só peço que não me venha a fenecer

Esse desejo no meu coração

Porque, sem ele, é bem melhor morrer.

 

 

(Ilustração: escultura de Bernini - Apollo and Daphne)



 

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