domingo, 22 de agosto de 2021

DOWN BY THE STATION, EARLY IN THE MORNING / PELA ESTAÇÃO, DE MANHÃ CEDO, de John Ashbery

 




It all wears out. I keep telling myself this, but

I can never believe me, though others do. Even things do.

And the things they do. Like the rasp of silk, or a certain

Glottal stop in your voice as you are telling me how you

Didn’t have time to brush your teeth but gargled with Listerine

Instead. Each is a base one might wish to touch once more



Before dying. There’s the moment years ago in the station in Venice,

The dark rainy afternoon in fourth grade, and the shoes then,

Made of a dull crinkled brown leather that no longer exists.

And nothing does, until you name it, remembering, and even then

It may not have existed, or existed only as a result

Of the perceptual dysfunction you’ve been carrying around for years.

The result is magic, then terror, then pity at the emptiness,

Then air gradually bathing and filling the emptiness as it leaks,

Emoting all over something that is probably mere reportage

But nevertheless likes being emoted on. And so each day

Culminates in merriment as well as a deep shock like an electric one,



As the wrecking ball bursts through the wall with the bookshelves

Scattering the works of famous authors as well as those

Of more obscure ones, and books with no author, letting in

Space, and an extraneous babble from the street

Confirming the new value the hollow core has again, the light

From the lighthouse that protects as it pushes us away.



Tradução de Adriano Scandolara:



Tudo desgasta. Vivo me dizendo isso, mas

Nunca acredito em mim, embora os outros o façam. Até as coisas o fazem.

E as coisas que fazem. Como a raspa da seda, ou certa

Oclusiva glotal em sua voz ao me dizer que você

Não teve tempo de escovar os dentes e fez gargarejo com Listerine

Em vez disso. Cada uma é uma base que se pode desejar tocar outra vez



Antes de morrer. Há o momento, anos atrás, na estação em Venice,

A tarde escura e chuvosa na quarta série, e os sapatos assim

Feitos de um couro marrom embotado rugoso que não existe mais

E nada existe, até que você o nomeie, lembrando, e, ainda assim,

Pode não ter existido, ou existido só como resultado

Da disfunção perceptual que você tem carregado por anos a fio.

O resultado é mágica, depois terror, depois dó do vazio,

O ar gradualmente banhando e preenchendo o vazio enquanto vaza,

Se comovendo sobre algo que é provavelmente mera reportagem

Mas de qualquer modo gosta que se comovam. E, assim, cada dia

Culmina em regozijo, bem como o profundo choque como se elétrico,



Conforme a bola de demolição estoura a parede com as estantes

Espalhando as obras de autores famosos, bem como aquelas

Dos mais obscuros, e livros sem autor, deixando entrar

Espaço, e um balbucio estranho da rua

Confirmando o valor novo que o centro oco tem outra vez, a luz

Do farol que protege enquanto nos distancia.



(Ilustração: 
 Kurt Schwitters - Glass Flower - 1931)




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