sexta-feira, 30 de abril de 2021

A UM ADOLESCENTE, de Amadeu Amaral

 



I

Basta crer na Beleza. Ama-a no Cosmos, fora

de ti, e ama-a em ti mesmo. É a suprema pesquisa!

Busca-a. E esculpe teu ser, juntando, hora por hora,

à mente que concebe o escopro que realiza.



Perguntas: — Onde o metro, a norma, a arte precisa

para rasgar no bloco a forma que se ignora?

— Quem ao leão deu o ardor com que os desertos pisa?

E quem à águia ensinou a ser do azul senhora?



Tens o instinto voador de quem nasceu com asa.

Ama o que é forte e puro, odeia o que é perverso,

o que é baixo, o que é vil, tudo que anda de rastros.



E põe-te em comunhão, no entusiasmo que abrasa,

com a Beleza, esplendor da Vida e do Universo,

com a poesia, os heróis, os abismos e os astros.

II

Falta o preceito firme a que a ação se conforme?

Falta uma diretriz certa e definitiva?

— Quem a teve jamais? O bom ideal é informe,

e a Certeza, ai de nós! de todo o encanto o priva.







A torrente que corre e espadana, áurea e viva,

sem parar nem recuar no itinerário enorme,

busca um sonho que além, sob a névoa, se esquiva…

e ai! dela, se desvenda o sonho azul que dorme!



Sê tu como a caudal: foge ao remanso e ao charco.

A água pura é a que ferve e cintila entre abrolhos.

O miasma e o lodaçal moram nas águas mansas.



Avança, seja o sol resplandecente ou parco;

— e se a meta surgir, algum dia a teus olhos,

impele-a para além à proporção que avanças!



(Espumas: versos,1917)



(Ilustração: Camille Claudel - a pequena castelã 1893)

Nenhum comentário:

Postar um comentário