sexta-feira, 23 de outubro de 2020

LA COLONNE QUI, LÉCHÉE JUSQU’À CE QUE LA LANGUE SAIGNE, GUÉRIT LA JAUNISSE / A COLUNA QUE, LAMBIDA ATÉ FAZER SANGRAR A LÍNGUA, CURA A ICTERÍCIA, de Raymond Roussel

 





1 Traitement héroïque ! user avec la langue,

2 Sans en rien rengainer qu’elle ne soit exsangue,

3 Après mille autres fous, les flancs de ce pilier !

4 Mais vers quoi ne courir, à quoi ne se plier,

5 Fasciné par l’espoir, palpable ou chimérique

6 (Espoir ! roi des leviers ! tout oncle d’Amérique

7 ((Ce pays jeune encore, inépuisé, béni,

8 — Si tard, de nos atlas, vierge il resta banni, —

9 Où l’on rafle plus d’or, vingt fois, qu’en l’ancien monde,

10 Soit que — l’appétissant a besoin de l’immonde —

11 Par cent mille kilos on fabrique un engrais

12 Pour ces champs infinis, où, gaillards, le nez frais

13 (((Un jour, d’un chien souffrant fait un chien hydrophobe ;

14 S’assurer que toujours ce liquide que gobe [165]

15 Même le mieux appris entre les nouveau-nés

16 Sort de l’ami de l’homme et lui vernit le nez

17 N’est pas, prenons-y garde, acte moins nécessaire

18 Que : — lorsque l’ennemi se fend d’un émissaire,

19 Sur les yeux de l’intrus appliquer un bandeau ;

20 — Quand passe un roi, marquer autour de son landau

21 Chaque point cardinal par un mouchard cycliste ;

22 — Quand, chef de conjurés, des noms on fait la liste,

23 Tout ce qu’on a d’esprit le mettre à la chiffrer ;

24 — Pour que l’oiseau pillard hésite à s’empiffrer,

25 Meubler d’épouvantails les terres où l’on sème ;

26 — Vieux ((((pendant notre hiver notre tignasse essaime,

27 Tels les rayons plantés dans le soleil vernal

28 S’en vont quand il se change en soleil hivernal ;)))),

29 S’imposer de fuir l’air ou de porter calotte ;

30 — Après avoir sombré de culotte en culotte,

31 Mettre en sûr viager l’argent sauvé du club ;

32 — Engager le verrou quand c’est l’heure du tub ;

33 — Avant de travailler sur une corde raide

34 S’armer d’un balancier ;))), cent chiens prêtent leur aide



Tradução de Luiza Neto Jorge:




Desgastar com a língua - heroico tratamento!

Pois só exangue estando a metem para dentro -

Como outros loucos mil, os flancos do pilar!

Mas como não correr, como se não vergar,

Fascinado pela esperança, evidente ou quimérica

('Sperança! alavanca-mor! todo o tio da América

((Esse jovem país, inda úbere e bendito,

- Virgem até tão tarde e dos atlas proscrito -

Onde oiro há aos milhões, mais que no velho mundo,

Quer porque - o apetitoso apela pelo imundo -

Aos cem mil quilos há quem fabrique um adubo

Par'esse campo infindo onde, focinho agudo,

(((Um cão doente fica hidrófobo num dia;

Ver se sempre esse líquido, que até a cria

Mais ensinada engole, sai do animalzinho

Do homem tão amigo, e lhe pule o focinho,

É acto, atentai bem, não menos necessário

Que: - quando o inimigo envia um emissário,

Nos olhos do intruso uma venda aplicar;

- Quando um rei passa, junto ao seu coche postar

Nos pontos cardiais um motociclista;

- Quando, em conspiração, nomes o chefe alista,

Quanto na mente houver, tudo averbar em cifra;

- Para o pássaro que pilha hesite e mais não esmifre,

A sementeira encher de espantalhos se faça;

- Velho ((((no nosso inverno a trunfa humana é escassa,

Tal o que semeado é ao sol estival

Se vai, quando ele no fim passa o sol invernal;)))),

Fugir de usar chapéu ou de se expor ao ar;

- Resguardar os tostões salvos do lupanar,

Ao fim de muito andar de cueca em cueca;

- Ir ao trinco e corrê-lo, à hora da soneca;

- Antes de em corda bamba exercitar-se, à mão

Um pênd'lo sempre ter;))), cem cães ajuda dão





(Novas Impressões de África; introdução e apensos de Manuel João Gomes; 1988)


(Ilustração: Hannah Höch)

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