domingo, 11 de outubro de 2020

VERSOS DE UM CÔNSUL, de Raul Bopp






Coitado do meu filho!



Vai pra escola

Muda de escola



Sucedem-se mudanças para novos postos

Novos carimbos nos papéis de matrícula



No quadro negro

o professor mexe com algarismos:



− Zwei mal zwei?

− Vier

− Zwei mal vier?

Ach…………….



A resposta se engasga. A voz se some

acabrunhado pela matemática



E lá se vai ele por essas manhãs friorentas

com uma mochila de livros às costas

(como quem vai pr’uma guerra)



Terras novas Muito sol Bandeira ao vento

No pátio del Colégio a professora rege o coro:



− …si mañana en tu solo sagrado…



A almazinha do meu filho

vai se compondo e decompondo

com pedaços de pátrias misturadas



De noite

a gente recolhe os pensamentos

com um cansaço internacional



− Pai!

− O que é que tu queres meu filho?



Ele achega-se a mim com um abraço carinhoso:



− Pai!

Conta mais uma vez

como é que era mesmo o Brasil





(Putirum, s/d.)




(Ilustração: Tarsila do Amaral - Estrada de Ferro Central do Brasil)


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