sábado, 5 de setembro de 2020

O DRONE, de Felipe Fortuna

 




O drone chegou. Seu voo de silêncio (a

menos que atravesse

o céu escarlate) inverte o mundo:

não é a bomba cega

que pulveriza o prédio e a fuga

- é a máquina que acerta em cheio

e vai e volta a toda

com sua missão de rapina.

Avião crucificado. E voa sem sacrifício

sem kamikaze

sem aguardar combustível

e sem mãos grudadas

aos batimentos cardíacos.

Seus olhos deslocam a vida.

Seus telescópios mergulham fundo

no corpo

que carbonizou: não houve nem silvo

nem ar.

O drone lança asfixia,

está por trás, está

por cima, está no filme assombrado

que o revela, na sala refrigerada.

E quem o comanda

(sem turbulência

sem vento de cauda

e sem ascensão)

pode desligar os motores (findo

o expediente)

mas pode também

(igual ao drone)

sorrir em silêncio.



(Em seu lugar, 2005)



(Ilustração: Kathryn Brimblecombe - Fox Remote Control)


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