sábado, 23 de maio de 2020

DE KAFKA A HEMINGWAY: 30 MICRO CONTOS DE ATÉ 100 CARACTERES, de Carlos Willian Leite




Embora não seja reconhecido como um gênero literário — sendo associado às tendências de vanguarda e ao minimalismo —, os “micro contos” ganharam um grande número de adeptos nas duas últimas décadas. A partir do início dos anos 1990, estudos e antologias começaram a abordar o tema de forma enfática, resultando em centenas de publicações em todo o mundo. 

Ainda que pareça, as micro narrativas de ficção não são algo recente. Grandes nomes da literatura mundial como Tolstói, Jorge Luis Borges, Bioy Casares, Julio Cortázar e Ernest Hemingway já incursionaram pelo tema. O escritor guatemalteco Augusto Monterroso, que morreu em 2003, é tido como um dos fundadores do “gênero” com o conto “O Dinossauro”, escrito com apenas trinta e sete letras e considerado o menor da literatura mundial, na época: “Quando acordou o dinossauro ainda estava lá.” O norte-americano Ernest Hemingway também é o autor de outro famoso micro conto, com apenas vinte e seis letras: “Vendem-se: sapatinhos de bebê nunca usados”, embora alguns estudiosos da obra de Hemingway contestem a autoria. No Brasil, o pioneiro foi o escritor Dalton Trevisan, com o livro “Ah, é?”, de 1994. Mesmo não havendo nenhuma regra clara, uma das definições para o micro conto seria o limite de 150 caracteres, incluindo espaços. 

Os micro contos selecionados foram extraídos dos livros “Not Quite What I Was Planning”, “It All Changed in an Instant” e “Os Cem Menores Contos Brasileiros do Século”, além do jornal “Observer”, da revista “Wired” e do suplemento literário “Babelia”, do jornal “El País”. 



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“Tempo. Inesperadamente, inventei uma máquina do” 

Alan Moore 



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“Olha, Pai, eu tentei, mas acho que não deu muito certo não…” 

Antônio Prata 


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“Um homem, em Monte Carlo, vai ao cassino, ganha um milhão, volta para casa, se suicida.” 

Anton Tchekhov 


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“Quando acordou o dinossauro ainda estava lá.” 

Augusto Monterroso 


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“70 anos, algumas lágrimas, orelhas peludas.” 

Bill Querengesser 


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“O suicida era tão meticuloso que teve que refazer diversas vezes o nó da corda para se enforcar.” 

Carlos Seabra 


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“Uma vida inteira pela frente. O tiro veio por trás.” 

Cíntia Moscovich 


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“Quase uma vítima da minha família.” 

Chuck Sangster 


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“A velha insônia tossiu três da manhã.” 

Dalton Trevisan 


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“Conheceu a esposa em sua festa de despedida.” 

Eddie Matz 


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“Vestiu os artefatos, beijou o filho com ternura e saiu pro último trabalho sobre a Terra.” 

Edival Lourenço 


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“Vendem-se: sapatinhos de bebê nunca usados.” 

Ernest Hemingway 


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“Uma gaiola saiu à procura de um pássaro.” 

Franz Kafka 


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“2 de agosto: a Alemanha declarou guerra à Rússia. Natação à tarde.” 

Franz Kafka 


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“Nascido no deserto, ainda com sede.” 

Georgene Nunn 


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“Então você acredita em mim de qualquer maneira?” 

James Frey 


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“O homem estava invisível, mas ninguém percebeu.” 

José María Merino 


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“A mulher que amei se transformou em fantasma. Eu sou o lugar das aparições.” 

Juan José Arreola 


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“Eu escolhi paixão. Agora sou pobre.” 

Kathleen E. Whitlock 


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“Fui me confessar ao mar. O que ele disse? Nada.” 

Lygia Fagundes Telles 


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“Se Eu não acreditar em Mim, quem vai acreditar?” 

Marcelino Freire 


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“Morreu” 

Marcelo Rota 


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“Escrever sobre sexo, aprender sobre o amor.” 

Martha Garvey 


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“Sem futuro, sem passado. Nada perdeu.” 

Matt Brensilver 


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“Pegou o chapéu, embrulhou o sol, então nunca mais amanheceu.” 

Menalton Braff 


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“Ouvi um barulho no portão, fui ver era a Lua nova.” 

Nei Duclós 


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“Assistindo calmamente de cada moldura da porta.” 

Nicole Resseguie 


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“Alzheimer: conhecer novas pessoas todos os dias.” 

Phil Skversky 


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“Eu perguntei. Eles responderam. Eu escrevi.” 

Sebastian Junger 


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“Eu ainda faço café para dois.” 

Zak Nelson 


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(Ilustração: Frank Stella - Hyena Stomp 1962) 






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