quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

PERFEITO, de Eucanaã Ferraz



Me disse nos meus braços você parece

um menino eu disse nos seus braços

eu sou um menino eu podia ter dito



trago pela mão um girassol um livro

um violino eu devia ter dito eu não disse

sou um verso que teci com seus cabelos



sou o peixe vermelho no aquário

de Matisse eu diria ainda mas

deixei que só a respiração dissesse



que eu era a presença longínqua da maresia

por entre os pinheiros de Curitiba

um menino sim um grão de mostarda



um sobrado em Braga branco e branco

eu despertava e Amsterdã sob a neve

parecia mais pequenina uma sílaba



à espera de uma sílaba que a tarde

trazia entre dentes miúdos; tudo

sob o laço prestes a desatar e cair



à maneira de um copo que se parte;

mas por ora nada tinha peso nada

era grave e o tempo sem as horas



nunca soube de nós ali onde o mundo

permaneceria daquele modo suspenso

perfeito.




(Escuta)



(Ilustração: Heinrich Lossow)






Nenhum comentário:

Postar um comentário