quinta-feira, 31 de outubro de 2019

AUTO-RETRATO, de Ana Hatherly






Este que vês, de cores desprovido,

o meu retrato sem primores é

e dos falsos temores já despido

em sua luz oculta põe a fé.



Do oculto sentido dolorido,

este que vês, lúcido espelho é

e do passado o grito reduzido,

o estrago oculto pela mão da fé.



Oculto nele e nele convertido

do tempo ido excusa o cruel trato,

que o tempo em tudo apaga o sentido;



E do meu sonho transformado em acto,

do engano do mundo já despido,

este que vês, é o meu retrato.



(A Idade da Escrita)


(Ilustração: Anne-Marie Zilberman - La dame au miroir) 





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