sexta-feira, 29 de março de 2019

CHEIRO DE ESPÁDUA, de Alberto de Oliveira







“Quando a valsa acabou, veio à janela,

Sentou-se. O leque abriu. Sorria e arfava,

Eu, viração da noite, a essa hora entrava

E estaquei, vendo-a decotada e bela.



Eram os ombros, era a espádua, aquela

Carne rosada um mimo! A arder na lava

De improvisa paixão, eu, que a beijava,

Hauri sequiosa toda a essência dela!



Deixei-a, porque a vi mais tarde, oh! ciúme!

Sair velada da mantilha. A esteira

Sigo, até que a perdi, de seu perfume.



E agora, que se foi, lembrando-a ainda,

Sinto que à luz do luar nas folhas, cheira

Este ar da noite àquela espádua linda!”



(Poesias, 3ª série, 1913.)



(Ilustração: Diego Velasquez - Venus, 1648)

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