sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

BANANA SPLIT, de Eduardo Alves da Costa





 


Aos que devoram o mundo

tranquilos, como se comessem

uma banana split;

aos que usam as assembleias

como balcão de negócios,

na esperança de vender

seu estoque de bombas;

aos banqueiros internacionais,

pressurosos em atender

os mendigos de Estado,

em troca de pequenas concessões;

aos que plantam suas máquinas

em terras estrangeiras,

para espremer os frutos,

o solo e as gentes;

àqueles que falam doce

e mandam seus missionários

catequizar os gentios

com hinos de dúbia letra;

aos amantes da ciência,

magos e feiticeiros,

hábeis em curar moléstias

geradas por eles mesmos;

aos que levam nosso ferro

e areias monazíticas

e nos devolvem em troca

o saldo de suas festas;

aos que matam nossa fome

com sacas de feijão podre

e nos afogam a sede

num mar de refrigerantes;

aos que abrem suas asas

sobre nossas cabeças ocas

e nos fazem aliados

contra o inimigo deles;

enfim, a todos aqueles

que usando de artimanhas

suas artes nos ensinam,

nossa gratidão eterna.

E a promessa de que um dia,

tão logo estejamos prontos,

restituiremos em dobro.





(Ilustração: Ed Ribeiro - Iemanjá)




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