sexta-feira, 2 de outubro de 2015

ASSIM É O MEDO, de Henriqueta Lisboa






Assim é o medo:

cinza

Verde.

Olhos de lince.

Voz sem timbre

Torvo e morno

Melindre.





Da sombra espreita

à espera de algo





que o alente.

Não age: tenta

porém recua

a qualquer bulha.





No campo assiste

junto ao títere

à cruz que esparze

vivo gazeio

de nervosismo

com vidro moído

grácil granizo

de pássaros.





E que rascante

violino brusco

não arrepia

ao longo o azul

dos meus veludos

se, a noite em meio

cá no fundo

quarto escuro,

a lua arrisca

numa oblíqua

o olhar morteiro.





Dentro da jaula

(mundo inapto)

do domador

em fúria à fera

subsinuosa-

mente resvala.





Aos frios reptos

do ziguezague

em choque, súbito

relampagueio,





as duas forças

se opõem dúbias

se atraem foscas

para a luta

pelo avesso:

despiste e fuga

ouro e vermelho

desde a entranha.





As duas forças

antagônicas:

qual delas ganha

acaso

ou perde

o medo

frente a

frente ao

medo?




(Além da Imagem)

(Ilustração: Zdzisław Beksiński)



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