quinta-feira, 1 de julho de 2010

OITO RUBAYAT, de Omar Khayyam





1

Nunca murmurei uma prece,
nem escondi os meus pecados.
Se existe uma Justiça, ou Misericórdia;
mas não desespero: sou um homem sincero.

2


O que vale mais? Meditar numa taverna,

ou prosternado na mesquita implorar o Céu?
Não sei se temos um Senhor,
nem que destino me reservou.

3


Olha com indulgência aqueles que se embriagam;

os teus defeitos não são menores.
Se queres paz e serenidade, lembra-te
da dor de tantos outros, e te julgarás feliz.

4


Que o teu saber não humilhe o teu próximo.

Cuidado, não deixes que a ira te domine.
Se esperas a paz, sorri ao destino que te fere;
não firas ninguém.

5


Busca a felicidade agora, não sabes de amanhã.

Apanha um grande copo cheio de vinho,
senta-te ao luar, e pensa:
Talvez amanhã a lua me procure em vão.

6


Não procures muitos amigos, nem busques prolongar

a simpatia que alguém te inspirou;
antes de apertares a mão que te estendem,
considera se um dia ela não se erguerá contra ti.

7


Alcorão, o livro supremo, pode ser lido às vezes,

mas ninguém se deleita sempre em suas páginas.
No copo de vinho está gravado um texto de adorável
sabedoria que a boca lê, a cada vez com mais delícia.

8


Há muito tempo, esta ânfora foi um amante,

como eu: sofria com a indiferença de uma mulher;
a asa curva no gargalo é o braço que enlaçava
os ombros lisos da bem amada.





(Os Rubayat, tradução de Alfredo Braga)





(Ilustração: Hervé Thibaut – sanguine bar, aquarela)

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