quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

ACHO TÃO NATURAL QUE NÃO SE PENSE, de Alberto Caeiro






Acho tão natural que não se pense


Que me ponho a rir às vezes, sozinho,


Não sei bem de quê, mas é de qualquer cousa


Que tem que ver com haver gente que pensa ...





Que pensará o meu muro da minha sombra?


Pergunto-me às vezes isto até dar por mim


A perguntar-me cousas. . .


E então desagrado-me, e incomodo-me


Como se desse por mim com um pé dormente. . .





Que pensará isto de aquilo?


Nada pensa nada.


Terá a terra consciência das pedras e plantas que tem?


Se ela a tiver, que a tenha...


Que me importa isso a mim?


Se eu pensasse nessas cousas,


Deixaria de ver as árvores e as plantas


E deixava de ver a Terra,


Para ver só os meus pensamentos...


Entristecia e ficava às escuras.


E assim, sem pensar tenho a Terra e o Céu.



(O Guardador de Rebanhos)



(Ilustração: Tarsila do Amaral - sol poente )


Nenhum comentário:

Postar um comentário