há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida
pensava eu... como seriam
felizes as mulheres
à beira mar debruçadas para
a luz caiada
remendando o pano das velas
espiando o mar
e a longitude do amor
embarcado
por vezes
uma gaivota pousava nas
águas
outras era o sol que cegava
e um dardo de sangue
alastrava pelo linho da noite
os dias lentíssimos... sem
ninguém
e nunca me disseram o nome
daquele oceano
esperei sentada à porta...
dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca de
mar ao fundo da rua
assim envelheci...
acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha
solidão
(anos mais tarde, recordo
agora, cresceu-me uma pérola no coração. mas estou só, muito só, não tenho a
quem a deixar.)
um dia houve
que nunca mais avistei
cidades crepusculares
e os barcos deixaram de
fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o
pano deste século
recomeço a bordar ou a
dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas que
alguma vez me visite a felicidade
(Ilustração: Kay Sage (June 25, 1898 – January 8, 1963): American Surrealist artist)
Nenhum comentário:
Postar um comentário