segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

CÉREBRO, de Ruy Proença

 





se caminho pela trilha

das ilhas

nos arquipélagos



se minha vida

é povoada de

sereias

polifemos



se desço ao

sulfuroso banho

ou à seção

de degolados

no quinto subsolo



se jogo a rede

sobre as estrelas

e depois

as devoro



se as garras

dos pterodátilos

durante a noite

rasgam

carnavalizam

minhas sinapses



se

estimulada

pelo fole

de meus pulmões

a extrusão

de meus neurônios

se assemelha

à ira dos vulcões



se minhas unhas

de amianto

escarificam

a chama o algodão

do último

e mais violento

amor



cérebro que só serviu

para me prever

depois de morto



(Ilustração: Luciano Garbati - 2008 - Medusa segurando a cabeça de Perseu)



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