sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

BALANÇO DA INSÔNIA, de Guilhermino César

 

 


O minuto de pasmo

o baile nos Alpes

a flor numa nuvem

a brasa na mão.

O minuto do pasmo.

 

Carunchos na estrela

o Minotauro correndo

              o dormir no balde.

Três relógios pretos

fazem tique-taque.

              Dois bigodes roxos

              o sêmen vermelho

              na proveta azul.

 

              Cinco senadores

              no amém de Minas

              um poeta sem os dáctilos

              férias em Leixões.

 

O trilho que se apaga

a carne que se nega.

 

               O bispo de tanga

               o sapo no cálice

               a égua no ourives

               diamante no vento

               a pulga na Fênix.

De noite, no claro,

o dia me exventra.


 

(Ilustração: Paula Rego)




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